Jornalistas, escritores, historiadores, fotógrafos, críticos literários e académicos integram a lista de oradores do curso "Portugal, 1974: sociedade, cultura e literatura na Revolução dos Cravos", que teve início ontem no Mosteiro de São Jerónimo de Yuste, organizado pela Academia Europeia e Ibero-Americana de Yuste em colaboração com a Universidade de Évora. Este curso faz parte da oferta educativa do Campus de Yuste, no âmbito da 25ª edição dos Cursos Internacionais de verão/outono da Universidade da Extremadura.
A Directora da Agência Extremenha de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AEXCID) e membro do Patronato da Fundação Yuste, Isabel Belloso, afirmou na inauguração que a Revolução Portuguesa também esteve na base "da esperança partilhada com Espanha da entrada de ambos os países na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia".
Por seu lado, o diretor da Cátedra de Estudos Ibéricos e co-diretor do curso, Antonio Sáez Delgado, afirmou que no dia 25 de abril de 1974, Portugal "inaugurou o seu futuro porque começou a falar de liberdade e democracia, acrescentando que "nenhum outro acontecimento português teve tanta repercussão em Espanha como a Revolução dos Cravos". Com este curso, disse, "vamos renovar os votos desse grito de liberdade e democracia".
Este curso serve de ponto de encontro para aprofundar um acontecimento histórico transcendental que conduziu a um processo de renovação das instituições e do Estado português. Neste sentido, a Vice-Reitora de Extensão Universitária da Universidade da Extremadura, María Teresa Terrón, afirmou durante a sua intervenção que é importante analisar o passado recente para construir um futuro melhor, "tornou-se uma obrigação para as instituições comprometidas com o progresso da sociedade contemporânea". Na sua opinião, as conclusões do curso servirão para rever os acontecimentos que marcaram o início do que é hoje o Portugal contemporâneo, quase paralelo à transição espanhola.
Segundo o Embaixador de Espanha em Portugal, Juan Fernández Trigo, o 25 de abril de 1974, 1975 e 1976 marcou o futuro de Portugal. O primeiro, porque se deu o golpe dos capitães, dando origem a um processo revolucionário; o segundo, porque se realizaram eleições para a assembleia constituinte que elaborou a Constituição; e o terceiro, porque se realizaram as primeiras eleições legislativas. Todos estes esforços, afirmou, "levaram Portugal a criar uma democracia estável".
O Embaixador de Portugal em Espanha, João Mira-Gomes, recordou durante o seu discurso o que Yuste e a Extremadura significam para Portugal, lembrando a participação do Presidente e do Primeiro-Ministro de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, respetivamente, na cerimónia de entrega do Prémio Europeu Carlos V para o ano de 2023 ao português António Guterres, Secretário-Geral da ONU.
Para concluir, Mira-Gomes convidou as pessoas a reflectirem sobre o significado da palavra liberdade porque, na sua opinião, "as sociedades sem memória contribuem para o regresso de períodos negros da história, para o estabelecimento de novas ditaduras e para a supressão da liberdade". Por esta razão, anunciou que Espanha e Portugal acordaram em celebrar conjuntamente o cinquentenário das suas transições democráticas a partir de setembro próximo, porque esta mudança também abriu as portas à Comunidade Económica Europeia.